O Breaking após um ano de pandemia
Mais de um ano se passou desde que a cidade entrou em estado de alerta e foi decretado o primeiro lockdown por conta da pandemia do coronavírus, que ainda iria tomar proporções inimagináveis. Já esperávamos ter resultados negativos comparados a outros países mais desenvolvidos, pelo nosso histórico de governo, mas não tínhamos parado para pensar no quanto isso poderia nos afetar: no trabalho, nas relações pessoais, nas finanças e na saúde. Ninguém estava preparado para isso, muito menos a nossa cultura, que, em tempos normais já sobrevivia com muita dificuldade. Não tínhamos ideia de quanto tempo isso iria durar e nem sabíamos o quanto um evento presencial faria falta. Estar a 300 metros do local do evento, já ouvir o som de longe e, com a proximidade, sentir adrenalina, ansiedade e sentimento de alegria por estar presente no evento, tão esperado, por você e por muitos. Pensado e organizado por um grupo de pessoas, que há meses planejam esse acontecimento, contratam pessoas, empregam parentes, abrem espaço para os pequenos empreendedores vender seus “panos”, seus produtos, gerando renda para várias famílias. Situações tão normais no dia a dia que nunca paramos para refletir a importância deles. Rever amigos, ver inimigos, dançar, conversar, observar o tênis do colega, a jaqueta style que o outro está usando, as novas tatuagens daquele outro B-Boy, aquele casal de B-Boy/B-Girl que está sempre junto… passar raiva com os jurados desqualificados, o evento que não valoriza o DJ e tocou as músicas de uma mixtape baixada da internet pelo pen drive… mesmo dos piores eventos sentimos falta. Isso, infelizmente, tem desencadeado uma série de preocupações com a saúde psicológica e física dos nossos colegas. Sem eventos para ir, lugares para treinar, sem poder viajar, muitos têm passado os dias e noites presos à uma das drogas mais prejudiciais para a nossa saúde: a internet. Com a ociosidade, veio a ansiedade. E com a ansiedade, a falta de empatia. Ah, a tal falta de empatia que mais nos separou do que em qualquer outro momento da história.
Todos já com os nervos à flor da pele, muitos desempregados, outros que perderam familiares ou amigos para a Covid-19, devastados, com o psicológico abalado, aí veio o anúncio: O BREAKING FOI OFICIALMENTE CONFIRMADO PARA AS OLIMPÍADAS DE 2024. Alguns ficaram felizes, encontraram nesse anúncio um pouco de esperança e motivação. Outros, ficaram indignados com o fato do Breaking ser incluído em uma modalidade esportiva. Não precisa ser gênio para saber qual foi o resultado disso, muita discussão e mais falta de empatia tomou conta das redes sociais. Oportunistas se fizeram presentes imediatamente, mesmo aqueles que tinham se declarado contra o Breaking nas Olimpíadas, brigaram por postos de poder para liderar o comitê representativo nacional. Enquanto estes brigam sem nem saber por quem ou por quê, os números no país continuam crescentes e a previsão de retomada cada vez mais distante. Antes de sermos artistas, somos seres humanos, somos seres humanos, SOMOS SERES HUMANOS. Precisamos ter mais HUMANIDADE, mais EMPATIA e mais CONSCIÊNCIA da REALIDADE que estamos vivenciando. Amamos o Breaking, vivemos o Breaking, mas há questões mais emergentes que precisam da nossa energia e do nosso tempo, de todos que estão saudáveis e podem ajudar. O futuro está à frente, o presente é HOJE, e hoje muitas pessoas precisam de ajuda – ajuda para comer, ajuda para superar uma depressão, ajuda para enfrentar crises familiares, ajuda para se levantar. Sejamos mais humanos e menos egoístas. Assisti uma série recentemente de dança e uma frase se destacou “por mais que estejamos todos competindo uns com os outros, tenhamos nossas diferenças, sejamos inimigos, ainda estes são os únicos que me entendem, porque eles vivem o que eu vivo e sabem das dores, das dificuldades, da luta”. É isso, no fim, estamos todos no mesmo barco, somos iguais. O que você tem feito por você nesse último ano? E, o que você tem feito pelos outros nesse último ano? Que não percamos nunca nossa essência e que sempre nos lembremos da nossa história, da nossa cultura, que prega PAZ, AMOR, UNIÃO E DIVERSÃO. This is Hip-Hop! Fotos: Reprodução